segunda-feira, 7 de março de 2011

Como é...

... operar um recém nascido depois de ter os meus?

Afffff...

É um nó na garganta. Uma grande responsabilidade, ainda maior que já era. Porque é o filho de alguém. É o pequenino ou a pequenina de alguém. É o motivo do quartinho cor de rosa de alguém. É o bebé que faz os barulhinhos mais deliciosos do mundo para alguém. É tudo para alguém.

É-me impossivel não me rever nas lágrimas dos pais (normalmente das mães, os pais tendem a abraçar a mãe e a aguentar-se estóicamente - conosco foi assim, tenho reparado nisto e tem sido assim sempre). É impossivel não me lembrar dos primeiros dias de vida dos meus filhos, da impotência e da dor de não poder fazer nada excepto ir para o pé da incubadora e cantar baixinho "can't take my eyes off of you" até à exaustão.
Tem-me doído falar com os pais, olhar para eles. Porque os meus filhos sobreviveram e ficaram bem e dói-me não poder prometer isso.

Doem-me ainda mais os pequeninos. O ar indefeso que vem normalmente junto com um pequeno humano que pontapeia, chora e nos foge debaixo das mãos. Vencemo-los pela anestesia mas vê-los adormecidos é ainda mais duro.

Quando se põem os panos e se ligam as luzes, já não quero ser a mãe. Tento esquecer-me dos meus filhos e das minhas dores e das minhas duvidas e deixar que a técnica e o rigor me movam. Porque só assim, com o coração ao alto, se consegue operar alguém, novo ou velhinho.

O que me move é um amor grande pelo que faço, são as borboletas na barriga e é a forte convicção de que só fazemos o que tem de ser feito e cada vez que pousamos um bisturi na pele de um recém nascido é por um motivo muito forte.


... E agora vou ali fazer um bocado de psicoterapia e já volto...