Depois do susto das renovadas contracções dei por mim a (finalmente) acreditar que não dá para ser mamã-cirurgiã e "andar a salvar vidas" 12 horas por dia em cima das pernas com dois bebés na barriga, só com a desculpa de que "não consigo não ser assim". Apercebi-me que não há cinta com reforço lombar (um must de toda a gravida) nem meias de descanso que me salvem se não puder sentar-me de vez em quando, comer regularmente e beber água. Apercebi-me que há dádivas que não se podem descurar e decidi, pela primeira vez na vida, pelos meus filhos.
Se custou? Sim, não minto, sob pena de parecer uma megera aos olhos das mães extremistas. Sou médica há 5 anos, antes disso já o era em coração há, pelo menos 7. Muito tempo. Sou mãe há 5 meses. Inicialmente senti-me a trair a minha profissão mas, em cinco meses, já consegui perceber que, por agora, tenho uma nova missão. E se não falhar enquanto profissional é importante, garantir que, no que depender de mim, estes bebés têm a possibilidade de viver e a oportunidade de ser saudáveis, é-o muito mais.
Agora como, bebo água e descanso a horas regulares. E bordo, que os nós aprendidos na cirurgia hão-de servir para alguma coisa...