quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Mãe é um bicho difícil de entender

Primeiro foram os seis meses com eles em casa. Mal dormia, mal comia, mal fazia chichi e tomar banho (ah tomar banho, esse luxo...) era a correr. Todos os minutos da minha existência resumidos a tratar deles, olhar para eles, estar com eles. Dar-lhes beijos, pronto.
Durante a licença de maternidade não fui ao ginásio, não aproveitei para estudar, não tomei cafés com amigas - assim que me lembre, só com amigas? duas vezes. Em seis meses. Fui algumas vezes ao centro comercial sozinha, mas sem eles não sabia o que fazer e voltava para casa com o rabinho entre as pernas e uma tabuleta a dizer "culpa" na testa. Raramente sai sem eles mas também pouco sai com eles. Ah, sim, experimentem sair sozinha com dois bebés "de ovinho". Também não conseguia sair só com um. Um bocadinho ridiculo gabarem o menino e a minha resposta ser "é, é parecidissimo com a irmã gémea". Voltava novamente a casa com o escolhido do dia para o passeio, o rabinho entre as pernas e a tabuleta a dizer "culpa" na testa.
Não levei os bebés às aulas de pilates, não os levei em longos passeios pela praia. Nada. Fiquei com eles. Só. No nosso casulo. Ralhei muito as interferências nesta nossa dupla de três e sofri por não conseguir dar aos dois toda a atenção do mundo. Afinal, mesmo que estivesse 24 horas dedicada a eles só conseguia dar a cada um metade de toda a atenção do mundo.
E depois a mãe teve de começar a trabalhar, porque alguém tem de fingir que também sustenta esta familia. Assim devagarinho para o standard daquilo que a vida de médico interno em especialidade cirurgica é. Mas ainda assim, doloroso. Oito horas diárias no trabalho não são nada. E bancos de 12 horas duas vezes por semana é muito pouco. Trabalhar 50 horas por semana é pouco. Para um médico interno é pouco. Mas oito horas fora de casa é muito. Dois dias por semana sem ver os meninos acordados é muito. E passou a ser casa-trabalho-casa. Não há tempo para ginásios nem para cafés nem para passeios. Não há tempo para mim. e, surpreendentemente, isso já nem me preocupa. Porque em casa há sempre alguma coisa para brincar, alguma fralda para trocar, alguma birra para acalmar. Alguém para dar beijos. Eu entro e saio e acho que eles nem se apercebem. Juro que pensei que era porque não gostavam de mim. Mas depois percebi que lhes transmiti o sentimento de que estou quase sempre presente. Eles tomam-me "for granted" e ter-lhes dado essa segurança sabe-me bem.
E há um dia em que a mãe tem um exame e que tem de estudar mesmo, mesmo muito. E tem bancos de 24 horas. E não pode estar com os meninos como queria. Só pode estar com eles naquilo que considera "doses homeopáticas de filhos".
E é nesses dias que eles percebem que afinal têm uma mãe que só está de vez em quando e que fazem festa quando chego a casa. E que choram quando saio.
Se calhar também tem a ver com o tal tempo de qualidade e rebeubeu que toda a gente fala. Ora vejam, eu cheio a casa morta de saudades deles e a hora que tenho com eles é a que faz mais sentido de todas as 24 que o dia tem. E acho que eles sentem isso. Se eu os conheço tão bem como é que eles não me hão-de conhecer de ginjeira?

É-me custoso aceitar a ideia de que tenho de terceirizar os cuidados aos meus filhos e, em vez de ficar feliz porque eles se aperceberam que têm mãe, fico assim meio morta por dentro por perceber que ele afinal perceberam isso da pior forma.

Apesar de acreditar que tudo o que faço é o melhor para eles, cá estou eu com a tal tabuleta a dizer "culpa" na testa.

A sério, isto chega a ser patológico. Mãe é um bicho dificil de entender...

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Serviço Publico

Pessoas, uma dica:

a forma mais fácil de serem servidos rapidamente em qualquer restaurante é levar duas crianças de 1 ano.

É ver os meninos a sentarem-se nas cadeirinhas e a começarem a lamber as manteigas, a puxar as toalhas de papel, a chorar porque querem pôr as facas nas bocas, a atirarem-se cadeirinha abaixo e ver os senhores empregados a correr com a ementa, os pratos, a sobremesa "e já agora trago o cafézinho e a conta ao mesmo tempo, sim?".

Vão ao restaurante da moda e não querem ficar na fila à espera de mesa? Vão àquele restaurante que adoram mas onde demoram uma eternidade a atender-vos? Eu empresto os meus filhos.

Rapidez garantida!