domingo, 6 de janeiro de 2013

Crescer é.

Sabemos que crescemos quando deixamos de encontrar amigos na discoteca e começamos a encontrá-los no restaurante no almoço ao domingo. E não é no restaurante da moda. É no restaurante que tem baloiços :)

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

De como as amigas nos lambem as feridas...

Porque as vezes e preciso fazer um ctrl+alt+delete e terminar tudo a meio. Fugir no entretanto. Fugir da rotina e dos medos. Dos doentes e das responsabilidades. Voltar e perceber que, dois anos depois, as pessoas continuam lá. As amigas continuam e recebem-nos com o mesmo carinho e ate com aquela atitude de "vamos la trata-la ainda melhor porque ela so tem disto uma vez por ano". Os desabafos. A praia com fofocas, o rir a toa, as saídas a noite... E morrer de saudades dos meninos entre uma coisa e outra. As vezes e preciso perceber que o nosso coração apertado ainda se aperta mais sozinho, deixa de relativizar as situações e nos torna em obcecadas por controlar e avaliar todas as atitudes, as horas de comer e banhos. vestidos que tem de condizer com bandoletes. E potencia a obsessão por limpar ranho e restos de leite no queixo. Guess what? Os meus meninos ficam ainda mais giros de ranho no nariz. Só que só consigo perceber isso agora. De certeza que tem alguma coisa a ver com sol na cabeça, sal no corpo e gargalhadas de amigas.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Eu vou fazer greve. Cá em casa vamos fazer.

A (nossa) Dra. Muxy explica porquê...


O senhor ministro diz, demasiadas vezes, que as propostas que põe sobre a mesa vão de encontro às reivindicações dos médicos, diz que o que o preocupa são os utentes que vão ficar sem consultas por causa das greves, diz ainda que a requisição civil está sempre sobre a mesa e diz também que não tem medo dos médicos. A comunicação é difícil, eu sei, mas vivia na ilusão que falávamos a mesma língua.
O que os médicos reivindicam é o fim do contrato de horas em massa. Se as horas que estão a concurso equivalem ao trabalho de 1800 profissionais a tempo integral de 40 horas então queremos contratos e não horas avulso. O que o senhor põe na mesa é um tecto mínimo para o preço dessas horas. Não vai de encontro ao que queremos, desculpe lá. O senhor não sabe mas eu conto-lhe porque sou generosa: a medicina de qualidade depende de uma politica de serviço, de uma hierarquia, de um pensar conjunto, da discussão dos doentes, de assumir os doentes como nossos e ter com eles uma relação perene. O trabalho à hora não garante nada disto.
O senhor diz que está preocupado com os doentes e nós sabemos que na comunicação social vai aparecer a senhora que fez quilómetros para ir a uma consulta que o estupor do médico não fez. Descanse excelência, as consultas vão ser feitas, noutros dias pelos mesmos médicos. Fazer greve não nos poupa trabalho, a nossa relação com os doentes é fiel e por isso fazemos questão de sermos nós a ver os nossos doentes em vez de médicos estranhos contratados à hora. 
Ameaça-nos com a requisição civil, não receamos excelência. O direito à greve é nosso pela constituição, sabemos quais são os serviços que não podem falhar e vamos cumpri-los. Não precisamos de castigos somos cidadãos responsáveis.
Não tem medo da greve mas perde tempo a desprestigiar a classe. Que somos pouco razoáveis, que não estamos abertos à negociação, que a ordem é amiga mas os sindicatos são maus. Tenha paciência e seja decente.
Defendemos o direito ao trabalho não precário, defendemos a justiça salarial e defendemos acima de tudo o Sistema Nacional de Saúde. Aquele que vocês, os senhores da austeridade expansionista (piada, piada) acham que é demasiado caro e, arrisco, demasiado bom para os portugueses.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Para a posteridade...

Queridos filhos desta pessoa que vos escreve,

Quase dois anos depois de terem nascido e centenas de dias a lidar com centenas de crianças depois, um pedido. Antes de serem crianças, pré-adolescentes e adolescentes. Enquanto ainda me ouvem. Mas não entendem. Pormenores, pormenores.... Queridos filhos da minha pessoa, vou anexar uma copia deste post a cada um dos vossos álbuns (sim, àqueles que ainda não fiz...). Para que me leiam quando crescerem.

Queridos filhos,

1. não vão andar de boné na cabeça dentro de um hospital, de uma igreja, de um museu ou de um espaço fechado no geral. Simple as that. Boné se existe sol. Se não existe, salta o boné. Pequeno pitbull terá eventualmente excepção se se verificar agravamento da sua carapinha loira e linda e precisar de a moldar...

2. não nos tratamos por você entre nós. Para nós isso tem uma explicação. Somos uma familia. Somos uns dos outros e optámos por isso. Todas as outras pessoas do mundo não são familia. E por isso, as mais velhas e desconhecidas serão tratadas por você até prova em contrário. 

3. não vão bater-me ou a outras pessoais mais velhas. Ou a pessoas, no geral. Vá, se algum amiguinho vos bater, resolvam as coisas. Eu finjo que não vejo. Pontapés à mãe, ao pai, aos avós ou a qualquer outra pessoa não existem. 

4. birras daquelas de atirar para o chão podem e irão existir, eu sei (sim, li o grande livro dos medos e birras....). Provavelmente a vossa birra não vai mudar a atitude na base da qual está a birra por isso, por favor, atirem-se para um chão longe de mim. O mesmo se aplica a adolescentes trombudos. Longe meus amores, longe... 

5. se na vossa altura ainda se usarem calças a cair, perfeito. Gosto. Três dedos abaixo da espinha iliaca antero-superior é o limite. Calça abaixo disso, implica muita cueca de fora. E ou vocês são ambos modelos da Calvin Klein/Victoria Secrets ou esqueçam lá isso... Se andarem com cueca de fora, por favor, escolham uma gira. E limpa, para todos os efeitos.

6. falando em cuecas... Minha pequena princesa, roupa interior é, tal como o nome indica, interior. Muitas alças de soutien à mostra confundem-me... 

7. não se atropelam pessoas para atingir fins, não se bate em animais, não se julgam as pessoas pela aparência e muito menos se inferioriza alguém pelo que possui ou não. 

8. é-se humilde. Voces são ambos lindos, mas haverão pessoais mais bonitas que vós. São ambos inteligentissimos mas haverão pessoas mais inteligentes. Vocês são, para mim, as pessoas mais especiais de todo o mundo. Mas nao o são para toda a gente. Temos de ter auto-estima e reconhecer o nosso valor. Mas ser humilde é uma virtude ainda maior. 

De resto podem fazer tudo: pintar paredes, rasgar sofás, namorar, sair à noite, fazer piercings e tatuagens, partir braços e pernas... Podem fazer quase tudo na vida meus filhos, desde que sejam pessoas decentes.


quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Mãe é um bicho difícil de entender

Primeiro foram os seis meses com eles em casa. Mal dormia, mal comia, mal fazia chichi e tomar banho (ah tomar banho, esse luxo...) era a correr. Todos os minutos da minha existência resumidos a tratar deles, olhar para eles, estar com eles. Dar-lhes beijos, pronto.
Durante a licença de maternidade não fui ao ginásio, não aproveitei para estudar, não tomei cafés com amigas - assim que me lembre, só com amigas? duas vezes. Em seis meses. Fui algumas vezes ao centro comercial sozinha, mas sem eles não sabia o que fazer e voltava para casa com o rabinho entre as pernas e uma tabuleta a dizer "culpa" na testa. Raramente sai sem eles mas também pouco sai com eles. Ah, sim, experimentem sair sozinha com dois bebés "de ovinho". Também não conseguia sair só com um. Um bocadinho ridiculo gabarem o menino e a minha resposta ser "é, é parecidissimo com a irmã gémea". Voltava novamente a casa com o escolhido do dia para o passeio, o rabinho entre as pernas e a tabuleta a dizer "culpa" na testa.
Não levei os bebés às aulas de pilates, não os levei em longos passeios pela praia. Nada. Fiquei com eles. Só. No nosso casulo. Ralhei muito as interferências nesta nossa dupla de três e sofri por não conseguir dar aos dois toda a atenção do mundo. Afinal, mesmo que estivesse 24 horas dedicada a eles só conseguia dar a cada um metade de toda a atenção do mundo.
E depois a mãe teve de começar a trabalhar, porque alguém tem de fingir que também sustenta esta familia. Assim devagarinho para o standard daquilo que a vida de médico interno em especialidade cirurgica é. Mas ainda assim, doloroso. Oito horas diárias no trabalho não são nada. E bancos de 12 horas duas vezes por semana é muito pouco. Trabalhar 50 horas por semana é pouco. Para um médico interno é pouco. Mas oito horas fora de casa é muito. Dois dias por semana sem ver os meninos acordados é muito. E passou a ser casa-trabalho-casa. Não há tempo para ginásios nem para cafés nem para passeios. Não há tempo para mim. e, surpreendentemente, isso já nem me preocupa. Porque em casa há sempre alguma coisa para brincar, alguma fralda para trocar, alguma birra para acalmar. Alguém para dar beijos. Eu entro e saio e acho que eles nem se apercebem. Juro que pensei que era porque não gostavam de mim. Mas depois percebi que lhes transmiti o sentimento de que estou quase sempre presente. Eles tomam-me "for granted" e ter-lhes dado essa segurança sabe-me bem.
E há um dia em que a mãe tem um exame e que tem de estudar mesmo, mesmo muito. E tem bancos de 24 horas. E não pode estar com os meninos como queria. Só pode estar com eles naquilo que considera "doses homeopáticas de filhos".
E é nesses dias que eles percebem que afinal têm uma mãe que só está de vez em quando e que fazem festa quando chego a casa. E que choram quando saio.
Se calhar também tem a ver com o tal tempo de qualidade e rebeubeu que toda a gente fala. Ora vejam, eu cheio a casa morta de saudades deles e a hora que tenho com eles é a que faz mais sentido de todas as 24 que o dia tem. E acho que eles sentem isso. Se eu os conheço tão bem como é que eles não me hão-de conhecer de ginjeira?

É-me custoso aceitar a ideia de que tenho de terceirizar os cuidados aos meus filhos e, em vez de ficar feliz porque eles se aperceberam que têm mãe, fico assim meio morta por dentro por perceber que ele afinal perceberam isso da pior forma.

Apesar de acreditar que tudo o que faço é o melhor para eles, cá estou eu com a tal tabuleta a dizer "culpa" na testa.

A sério, isto chega a ser patológico. Mãe é um bicho dificil de entender...

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Serviço Publico

Pessoas, uma dica:

a forma mais fácil de serem servidos rapidamente em qualquer restaurante é levar duas crianças de 1 ano.

É ver os meninos a sentarem-se nas cadeirinhas e a começarem a lamber as manteigas, a puxar as toalhas de papel, a chorar porque querem pôr as facas nas bocas, a atirarem-se cadeirinha abaixo e ver os senhores empregados a correr com a ementa, os pratos, a sobremesa "e já agora trago o cafézinho e a conta ao mesmo tempo, sim?".

Vão ao restaurante da moda e não querem ficar na fila à espera de mesa? Vão àquele restaurante que adoram mas onde demoram uma eternidade a atender-vos? Eu empresto os meus filhos.

Rapidez garantida!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A medicina na era da informática...

Na urgência, chamo um menino de 11 anos que entra muito queixoso e agarrado à barriga.

Depois das perguntas da praxe peço-lhe para se deitar na marquesa.

Enquanto lhe vou palpando a barriga pergunto:

- Então João, dói mais quando eu palpo à esquerda ou à direita?

Ao que o João responde:

- Dói mais quando clicka à direita!