domingo, 26 de julho de 2009

Zen

Sempre foi uma união improvável, esta nossa. Começou há coisa de oito anos. A "retornada" de Africa, revoltada, amante de hip hop e de calor, espiritual mas completamente anti-católica. O "beto" do Liceu Francês, o mais católico de todos os beatos e o mais "cromo" de todos os colegas. Da união improvável foi nascendo a amizade baseada em, revejo-nos agora, nada. Nada nos unia, nada em comum. Não gostamos da mesma música, não temos histórias de vida semelhantes, não pensamos da mesma forma em quase nada, não tinhamos amigos comuns, não tinhamos a mesma fé.

Ao longo dos anos fomo-nos gostando, umas vezes mais perto outras muito distantes. Fomos juntando amigos. Quase sempre a conversa acabava em discussão e a discussão, em conversa. Pegávamo-nos, forte e feio. Tu a tentares mostrar-me que havia mais no mundo para além da minha incrivel capacidade de só ver o meu próprio umbigo, eu a mostrar-te que tinhas de ver mais o teu umbigo. Tentei corromper-te para este meu mundo, Pedro. Tantas vezes. Tantas vezes te quis ensinar a ser mais mau, mais ranhoso e tu, sempre na tua, a tentares manter-te bom. Ontem alguém me disse, com pena, que tu nos deste muito mais a nós, que nós a ti. E é verdade. E não penses que digo isto só porque fica bem. É esta a verdade. E é, em relação a ti, e juntamente com as minhas tentativas de te corromper, a única coisa de que me arrependo. Devia ter sabido que não eras de cá.

Devia ter-te pedido para dares um beijinho meu ao Kiko e ao Marco mas sei que vais fazê-lo. Eu também não tenho pena que tenhas ido, não vou chorar e quero acreditar, mais que nunca, que estás melhor. Escolheste-nos e nós temos de te deixar seguir o teu caminho, sem lágrimas. Continua a mostrar-nos a tua luz e zela por nós, anjo que agora és.
Eu vou sentir a tua falta todos os dias.

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